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O coração partido. Não! Não só o coração, o corpo todo, a mente, a vida, a alma. Nada mais me dá gosto. Nada mais pode minha vontade fraca fazer-me salivar. Nada. Nada! Nada!
Nulidade. Nulidade que entra, invade, conquista tudo. Nulidade que me domina. Nulidade essa que, mesmo assim, pode ainda ser dividida.
Leio livros que não me apetecem. Leio autores babacas e consagrados, que nada dizem, nada fazem, nada querem.
Nada! Nada! Nada! O nada domina e invade tudo. Tudo que faço, tudo que sinto, tudo que penso. O nada é teu vazio que me aflige. É minha ausência de teu ser. O nada é a onipresença em meus contos, marcando-os, manchando-os, expondo ao mundo meu doer, meu sofrer, minha incapacidade, minha inabilidade, minha imperfeição, minha incomprensibilidade, minha impossibilidade de amar e amado ser, minha impossibilidade de felicidade, minha capacidade, minha habilidade única e completa de ser infeliz, estragar a vida, espantar quem amo, doar-me em vão, mas, pior, pior ainda, pior que tudo, minha capacidade de por você amado não ser e minha habilidade de o nada escrever.
Palavras vazias. Sim. Palavras vazias, sem vodka russa, nem teus cabelos, nem teus lábios, nem tua pele, nem teus seios, nem teus pelos, nem teu hálito, nem teu amor têm.
Palavras vazias. Palavras vazias, que mesmo vazias me ferem e doem como facas. Facas que tu trazes, mas deixa pra mim a triste tarefa de em meu peito cravá-las.
Pesadelos contigo. Sonhos contigo. Saudades.
Um mero Anacreonte, nada mais, nada menos. Um podre e jovem Anacreonte von Giq, aqui, abandonado, com vinte anos. Triste. Triste, saudoso. Triste, saudoso e com a certeza de que nunca mais, nunca mais, serei feliz
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