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Personagens: o menino
a menina
as estrelas
o coro (quatro pessoas)
a multidão (seis pessoas)
Ato I Cena I (o menino está deitado numa cama de madeira, à beira de uma imensa piscina):
menina: Oi?
menino: Ãhn? Oi. Quem taí?
menina: Sou eu Ana.
menino: Ahh... Ana...Oi!
menina: Oi!
menino: Senta aí.
menina: Tudo bem contigo?
menino: Tudo. E contigo?
menina: Um-rum. Você sumiu de repente...
menino: É tava cansado. Tava pensando.
menina: Pensando em quê?
menino: Ahn? Ah... sei lá, pensando.
(o menino cora e a menina deita ao lado dele em outra cadeira de madeira)
menino: Você é legal, sabia?
menina: É?
menino: Um-rum. Sério. Você é bem legal mesmo!
(uma pausa, ambos ficam em silêncio olhando pra água)
menina: Você parecia estranho, parado, não mexia nem o cabelo antes de eu falar. Pensava em quê?
menino: Eu?
menina: É...
menino: Ahh, não, sei lá. Olhava as estrelas eu acho.
menina: As estrelas?
menino: É sim. Você já viu elas hoje? Nossa como tão bonitas. Têm algo há mais, sei lá. É como se hoje eu pudesse senti-las, é como se hoje não só eu as olhasse, belas, mas elas também olhassem pra mim.
menina: Bonito isso.
menino: As estrelas?
menina: Não! Quer dizer, as estrelas também, mas não era disso que eu falava. Eu falei disso que você falou.
menino: O quê?
menina: Ah, não sei, deixa pra lá. É bobagem minha.
menino: Puxa... olha, olha aquela lá! É como se estivesse piscando e tentando falar com a gente.
menina: É parece até que tá dançando.
menino: Disseram que se a gente acreditar muito, muito, muito mesmo, fechar os olhos, se concentrar e, bem devagarinho esticar as mãos, a gente consegue tocar nelas.
menina: Será?
menino: É, mas diz que tem que acreditar bastante! Diz que daí elas brincam na mão da gente e nos dão um pedido.
menina: Vamos tentar?
menino: Vamos!
(ambos fecham os olhos e começam lentamente a deslizar as mãos para o alto)
(entram as estrelas, que começam a dançar ao redor do menino e da menina)
(após algum tempo entra o coro)
coro: Ó, o que acontece?
Dos puros jovens o que será?
Da maldição de deuses celestes
que vil plano formará?
Ó que aqui temos
Duas almas tão somente
Duas sementes tão perdidas
em um mundo indiferente
Eis que algo se processa,
uma agonia ali se esconde,
uma agonia, um desejo
pergunta que não se responde
Mas é tão breve este momento,
que não tarda em acabar.
Assistamos, cá do canto,
o que está pra começar
(As estrelas se assustam e saem correndo por um lado do palco)
(Pelo outro lado entra a multidão)
multidão: Anacreonte? Ana?
(O menino e a menina recolhem bruscamente os braços e se sentam)
multidão: Anacreonte? Ana? Cadê vocês?
menina: Aqui!
primeiro da multidão: Ahh... aqui estão vocês?
segundo da multidão: Finalmente, já não era sem tempo...
terceiro da multidão: O que vocês faziam aqui?
menino: Nada! A gente não fez nada! Agente tava conversando só...
menina: É... a gente tava quase tocando nas estrelas... mais um pouquinho só e a gente encostava.
(todos da multidão riem)
quarto da multidão: Deixa de besteira meu filho! Vem vamos pra casa.
quinto da multidão: É Ana, vem também. Vamos embora. Por hoje a festa acabou.
segundo da multidão: Eu bem que falei que eles tariam por aqui...
(o menino e a menina bocejam e correm pros braços de seus respectivos pais)
(saem a multidão, o menino e a menina)
coro: Assim fica certo
tudo encontra seu fim
seja na longa espera
ou brevidade enfim.
Qual será o futuro
está incerto prever
perguntai ao vil oráculo
o tem ele a lhe dizer
(sai o coro)
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