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Deep into the Air
Blog Spectro Editora
Bukowski - Vida Desalmada
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18


— Olha só, não tem esse cara de quem te falei?

— Quem? Lacan?

— Não, o bêbado. O maluco do bar.

— Ah tá, que tem?

— Pois é, nesse mesmo dia em que ele desandou a falar em Lacan, começou a mandar bilhete pra tudo que era moça do bar. Logo em seguida mandou um bilhete pros homens de todas aquelas que tavam acompanhadas chamando os caras de corno. Meu, foi a maior zona. Só faltou o bar pegar fogo.

— Cê tá me gozando?

— Não, é sério. E o pior é que, como o cara tava me alugando com todo aquele papo de Lacan, Sartre e vizinha tarada, todo mundo achou que eu tava com ele e devia apanhar junto.

— Putz. Cê deve ter saído correndo, não?

— Que nada, agora é que vem o melhor. Quando começaram os caras a vir pra dar porrada nele ele começou a berrar e fazer o maior escândalo. Começou a dizer que se chamava Anacreonte e que ninguém podia bater nele porque isso iria causar um incidente diplomático entre o Brasil e a Grécia.

— Que loucura...

— É mas os caras do bar não deram nem bola, queriam mesmo era encher ele de pancada...

— Imagino...

— Até o dono do bar, que eu achei que ia intervir, tava puto querendo espancar o bebum, porque também tinha sido alvo da história do bilhete... a mulher dele trabalha no balcão, sabe?

— Ahan

— Por sinal, uma puta loira sempre de saia. São as pernas mais olhadas da cidade depois das três da manhã. Mas sei que daí resolvi me meter e entrar no jogo, porque tava vendo que se batessem no cara ia sobrar pra mim também. Comecei a acalmar o pessoal, disse que ele era meio louco porque tinha servido na grécia contra os turcos e que já tava meio bêbado e tal, mas que era inofensivo.

— E aí?

— E aí que então o cara endoidou de vez. Subiu num banco no meio do bar e começou a gritar: "Inofensivo o caralho, tais querendo é dar o cú! Eu vou fuder tudo quanto é mulher nesse bar e depois enrabar os marido pra provar que são viado!"

— Não acredito!

— Sério. Nessa hora confesso que até eu fiquei puto e resolvi partir pra cima do canalha. Ainda por cima emendou a fala com a frase: "Que são corno isso eu não preciso provar porque todo mundo já sabe!" Aí desisti de vez e tava me preparando pra maior cena de espancamento que aquele bar já viu quando chegou a polícia. Foi na hora. Uns fregueses tinham ligado do orelhão logo que a confusão começou. Tentei me escapar mas acabaram me levando junto com ele, que chegou ainda a levar uns socos e chutes do pessoal.

— Nossa, e tiveram que passar a noite na prisão?

— Que nada. Os guardas já conheciam o cara. Ele deu trinta pila, eu dei mais vinte e os caras deixaram a gente no centro com a promessa de que não ia voltar mais lá. Diz que ele faz isso sempre. Pelo menos uma vez por mês ele arranja encrenca naquele bar, mas no dia seguinte já tá lá de novo. Fiquei com ódio mortal do cara na hora. Ele caiu bêbado num banco de praça e eu fui pra casa com o primeiro ônibus da manhã.

— Que foda, a gente devia dar uma surra nesse babaca.

— É verdade... talvez a gente ainda faça isso. Mas a verdade é que a coisa foi tão surreal que já até me acalmei. Vem, vamo lá no bar. A essa hora o maldito já deve estar lá matando um vinho e bêbado. Tu tem que ver pra acreditar. Maior figura.

— Pode ser. Depois a gente aproveita e quebra ele na saída.

— Fechou! Vamo lá.

   
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