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Finalmente tomei coragem. Um homem é o que é e deve enfrentar seu destino. Levantei, caminhei com firmeza até a porta do avião, a despeito da turbulência, troquei uma última palavra e pulei.

Nunca pensei que me tornaria um dia o covarde que me tornei agora. Se vier realmente a morte me buscar agora, tanto melhor. Sinto a adrenalina pulsante que me faz enlouquecer e respirar com dificuldade contra o vento, que corta meu rosto na velocidade incrível da queda livre. Cada momento de minha vida continua passando em frente aos meus olhos como um livro mal escrito.

Trinta anos. Trinta anos e nada sobrou pra contar. Trinta anos e nenhum troféu de consolação pra guardar, nenhum momento que tenha valido a pena viver, nenhuma lembrança digna de se recordar.

Trinta anos, mas o pior já passou. O pior é a ação. O ato de olhar pra baixo encarando o mundo pequeno e saltar sabendo que tudo em que se pode confiar agora é no pedaço de pano embolado nas costas. O pior é agir, enquanto agora basta não fazer nada. Basta simplesmente não agir e contemplar silenciosamente o solo que se aproxima, cada vez mais nítido, para então tudo acabar. Não há muito tempo, mas uma decisão há de ser feita.