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Mesmo em noite quente há coisas piores que cerveja choca
Mergulhando no ar
Deep into the Air
Blog Spectro Editora
Bukowski - Vida Desalmada
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11


Dei um beijo na face doce, sentindo aquele beijo como se fosse o último momento de amor no mundo. Nada mais eu precisava para saber que a amava. Nada mais precisávamos um do outro. Éramos únicos, completos, eu e ela, éramos nada, senão um reflexo daquilo que sentíamos.

Beijava seu rosto e cheirava a doçura de seus cabelos enquanto ela, tão bela quanto sempre, dormia pesado, descansando para o dia de trabalho duro que enfrentaria amanhã pela manhã, enquanto eu, ser noturno, continuaria dormindo.

De certa forma, a quantidade de anos trabalhando na noite me fizera perder o sono. Assim eu ficava, então, a noite inteira abraçado àquele corpo e sentindo aquele cheiro que me eram as melhores e mais preciosas coisas no mundo. Eu a amava, ainda amo, mesmo agora com tudo terminado, mas naquela época não havia nada no mundo que pudesse substituir aquele corpo, pele, beijo e cheiro que dormiam ao eu lado.

Costumava cheirá-la também. Começava no pescoço, cheirava os lábios, encostava meu nariz ao dela, compartilhando por algum tempo a respiração com ela, querendo que o tempo simplesmente parasse e o mundo congelasse conosco ali, naquela posição, compartilhando pra sempre.

Beijava-a de leve, nas faces e nuca. Depois descia cheirando-a, buscando principalmente os locais onde os cheiros eram mais forte. Cheirava-lhe os braços, axilas, barriga, virilhas, tudo. De tarde, quando ela não estava, cheirava suas roupas e a camisa com a qual ela dormira, tentando assim, sentir-me tão completo quanto quando estávamos juntos. Mas não havia nada tão bom quanto o seu cheiro em carne e osso. Enquanto as roupas iam aos poucos perdendo o aroma, ela estava sempre lá, com seu perfume de pele suada.

Adorava seu suor. Adorava todos seus cheiros e gostos. Qualquer coisa nela me fazia desejá-la e salivar.

Estamos deitados agora em nossa cama. Sinto o frio suave do inverno enquanto ela dorme. Jamais pude expressar à ela o quanto a amo e sei que jamais poderei. Beijo-a de leve, para não acordá-la, pensando quanto tempo demoramos após nos conhecermos e descobrirmos que nos amávamos para finalmente ficarmos juntos. Conheci-a com vinte e dois e só agora, depois de quatro anos, depois de tantos relacionamentos e desencontros que tivemos no meio do caminho, resolvemos nos acertar.

Quem sabe o mundo não seja assim, talvez, tão mal quanto sempre foi.

   
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