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A doce arte de Nana Caribenha
Mesmo em noite quente há coisas piores que cerveja choca
Mergulhando no ar
Deep into the Air
Blog Spectro Editora
Bukowski - Vida Desalmada
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2

É meio estranho o garoto. Filho mais novo. Eu gosto dele até, mas temos que ficar de olho nesse menino. Outro dia, numa festa na casa do Otávio, permiti que ele bebesse a espuma da cerveja e, quando vi, ele já tinha emborcado meio copo. Repreendi-o, é claro, tentei ralhar com ele, embora eu fracassasse como sempre. Eu gosto demais desse meu filho para conseguir brigar com ele. Aliás, gosto demais e igualmente de ambos os filhos mas não posso resistir de ter uma certa esperança de que esse siga um dia meus passos, talvez por ser muito parecido comigo. Toda vez que ele faz uma arte e eu me vejo forçado a bater nele e pô-lo de castigo, fico com tal peso no peito que em menos de meia hora, lá estou eu pedindo desculpas à ele, como se fosse eu a ter feito algo errado, e não ele.

Mas tudo bem, talvez não seja nada demais. Eu me preocupo demais sabe, eu sempre me preocupo demais. Coração de pai é assim mesmo, eu acho, sempre imagino que o pior vai acontecer com eles.
Sempre levo eles pras festas, não tiro muito o olho deles, sabe, por isso que ele me bebeu aquela cerveja naquele dia. Depois mais tarde eles acabam dormindo ou indo brincar. Em verdade, geralmente, o mais novo é que apaga primeiro. Junta umas três ou quatro cadeiras num canto e, quando vemos, ele já está lá, dormindo afastado, isolado de todo mundo, dormindo pesado no meio da maior barulheira. Será que ele tem algum problema? Isso não deve ser normal.

Já o mais velho dá gosto de ver. Está sempre brincando com as outras crianças. Acho que quando crescer ele vai ser um líder. Talvez ele que acabe por seguir meus passos, ou então entrará pra política. Não, espero que não, a política é sempre muito suja e corrompe as pessoas, prefiro mesmo é que ele siga meus passos, ou então se torne um médico ou engenheiro.

Mas esse menor... ahh, esse ainda vai me dar muita dor de cabeça no futuro. Um dia eu vou descobrir que eu devia ter ficado de olho nele pra pô-lo na linha quando ele começasse a se desviar. Eu vou dar tudo pra ele, mas mesmo assim ele foi sempre muito afastado. Embora hoje eu ainda não note isso, ele tinha por hábito se afastar das pessoas. Agora mesmo eu tenho um exemplo disso. Acho que foi a primeira vez que poderíamos, mas infelizmente não o fizemos, ter percebido essa tendência de debilidade mental do garoto. Foi numa festa, durante o verão, e, já preocupados, notamos seu sumiço. Saímos, eu e a mãe dele, atrás dele...mas, espere. Antes que me acusem de não ser imparcial, ou de querer roubar o espaço do livro todo pra mim vamos deixar que ele fale um pouco, aí vocês vão entender do que eu estou falando.

   
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