LIVRES E IGUAIS
A premiada peça do grupo catarinense "Teatro sim... Por que não?"
         
 

Questões humanas em movimentos de metais

por Egídio Mariano

"Livre e Iguais" do grupo "Teatro sim... Por que não?" teria sua estréia no aniversário dos cinqüenta anos da Declaração dos Direitos Humanos. Teria... se não fosse a falta de patrocínio que acerta em cheio as boas iniciativas dos grupos artísticos nacionais. E, da mesma forma que Nini Beltrame - um dos diretores da peça, - define o mote do seu trabalho, "existe uma espécie de consenso na concepção e visão do mundo Neo-Liberal que torna o ser humano descartável e parte da humanidade lixo", podemos estender à iniciativa privada uma semelhante perspectiva em relação à cultura, ou seja, parte das milhares de iniciativas culturais que não são epicentros das massas podem ser descartadas como se desnecessárias ao conjunto de ações para a formação de idéias junto à sociedade. É, em si, uma questão (entre muitas), que golpeia traiçoeiramente a atividade humana no leque da criação de alternativas que objetivam se distanciar da alienação social cultivada pelo robótico aspecto do pensamento contemporâneo. Nesse sentido, sim! temos um teatro engajado, onde cada parte que o compõe traz em si a contestação do pensamento dominante, ideologia forjada para consumo, quando homem explora homem, sem qualquer traço de reflexão acerca das questões que envolvem tal exploração.

A peça, originalmente escrita para atores, passou a ser desenvolvida para o teatro de bonecos quando os diretores Júlio Maurício, Nazareno Pereira e Nini Beltrame, encontraram a árdua tarefa de criar um paralelo entre a exploração econômica e a diminuição conseqüente de valores humanos intrínsecos a uma convivência mais justa e digna na sociedade. Tal comparação exigia um meio mais eloqüente de comunicar aos espectadores os motivos que levam um ser humano a se tornar lixo sob o olhar dos demais. Houve, então, uma pesquisa sobre o movimento da "Pop Art" do início dos anos sessenta que os levou a utilizar o descartável da sociedade como material para a representação em palco dos dilemas que permeiam a exclusão social. Assim nasceram os bonecos feitos a partir de sucatas metálicas, obtendo dois resultados: o metal, como frisou Nazareno Pereira, cria, visualmente, um impacto por se tratar de um material denso e frio, sugerindo a artificialidade que compreende o comportamento humano atual; e, segundo, transporta para o espectador a possibilidade de transcender a frieza do material com características emocionais restritas ao homem, o que, em si, transforma-se em um desafio de superar os próprios limites de percepção sobre a realidade. O vínculo criado entre a natureza física do material e a natureza psíquica humana firma, por fim, uma sólida linguagem que provoca o questionamento individual e coletivo a partir da associação entre esses dois elementos expostos em palco.

"Livres e Iguais", há um ano e três meses em cartaz, já possui em seu histórico treze prêmios nacionais, além de um convite para integrar o Festival Internacional de Teatro de Bonecos do Irã. Para acompanhar futuros espetáculos do grupo, que aceita convites para apresentações em empresas e escolas, basta entrar em contato através do e-mail teatrosim@brasilnet.psi.br ou pelo telefone (048)2232786.

 

 
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